PARALELA 2010 // A Contemplação do Mundo
As alterações políticas, sociais e científicas do mundo atual produzem atualizações ou atualização relacional naquilo que denominamos de cultura. Estando em um ritmo acelerado com as novas tecnologias de informação e de comunicação, a sociedade passa por um choque continuo de aprendizado. A era atual, remotamente denominada de neobarroca por alguns autores, é muito mais neorrenascentista dada à sua capacidade de expansão dos novos modelos de operação e de consciência. A partir de conceitos de hibridização, de miscigenação, de convergências e confluências de ideias acessivel à todos - a tal biblioteca aberta nas palavras de Gilles Deleuze -, vivemos num mundo constantemente atualizado. Hegel já previra nos termos de Zeitgeist, o espírito do tempo cujo motor será sempre a história. O tempo não para, mas todavia perdeu a sua importância na emergência em que vivemos. A cibercultura preconizada por Pierre Lévy pensa a engenharia do laço social para construir árvores do conhecimento. Estas árvores, abertas e democraticamente acessíveis à todos graças às tecnologias existentes, é a sua mais valia. Um dos autores fulcrais para a compreensão do século XX – bem como deste que está começando - Michel Maffesoli indica-nos a chave para a passagem do portal do nosso tempo. O título A Contemplação do mundo, livro profético de Maffesoli, foi tomado como farol para a discussão nesta Paralela 10. Maffesoli propõe que “o sonho e o pensamento estão estreitamente ligados, sobretudo nos momentos em que as sociedades sonham-se a si mesmas. É importante, pois, saber acompanhar esses sonhos, tanto mais que sua negação é, em geral, uma constante de todas as ditaduras. Estas não possuem mais a face brutal que foi a sua, durante toda a modernidade. Elas tomam o aspecto aprazível e bastante asséptico da felicidade tarifada ao menor preço. A ditadura contemporânea não consiste mais no fato, salvo exceções notáveis, de indivíduos sanguinários e cruéis, ela é anónima, doce, dissimulada. Ela é, sobretudo, não- consciente do que é, ou do que faz, e se empenha, em total boa fé, em promover o sacrossanto princípio de realidade utilitarista. E desse modo extirpa, de fato, a faculdade onírica. Neste sentido, ela exprime senão uma constante da história humana: os poderes dormem em paz, enquanto ninguém pode mais, não sabe mais ou não mais ousa sonhar”.
PAULO REIS Curador